"Catarina, se eu pudesse dar-te apenas mais um presente, seria não deixar que o medo te impedisse de seres feliz. Sim, o medo. Quero falar-te do teu pai, do jovem escritor que conheci quando tinha a tua idade. O jovem escritor, como lhe chamava a professora de Alemão que organizou este pequeno livro de histórias, o jovem escritor que habitava um mundo de bruma e de sol, de florestas cerradas e de vastas planícies. Na verdade, ele ainda o habita, como se percebe por aquilo que escreve. Várias vezes, ao longo destes anos, me perguntei se o teu pai foi mesmo o grande amor da minha vida. Tenta compreender-me: aquilo que nos ensinam desde criança, a verdade de um grande amor, maior do que tudo, o verdadeiro amor, capaz de tudo vencer. Eu não sei, e possivelmente nunca o soube. Ou nunca acreditei nesse heroísmo do amor. O amor verdadeiro? Tantas vezes me perguntei se não seriam verdadeiros todos os amores.... O teu pai abria-me os portões altos e dourados do seu mundo de bruma e de sol,